Amado Batista, “Cantar o Amor” (1977)

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Considerado por muitos como o primeiro disco de Amado Batista (ele já havia lançado um compacto em 1975), “Cantar o Amor”, de 1977, surpreende por ser um dos melhores, musicalmente falando, com bons timbres, como era costumeiro nos anos 70, apesar de quase não ter hits. Desde essa época Reginaldo Sodré já era parceiro de composição em quase todas as músicas.

Algo que se destaca nesse primeiro disco, bem de leve, são alguns sons com influências psicodélicas, como o efeito da guitarra em “Borboletas”, por exemplo, que é a primeira música, e tem um bom “chacundum” no baixo e bateria, solo de flauta e gaita.

“Sonho Antigo”, num ritmo animado médio, com guitarra wah-wah de fundo, fala sobre deixar a cidadezinha do interior e ir para uma cidade grande em busca do sonho de virar um cantor famoso.

“Suas Cartinhas” é mais melancólica, falando sobre traição, com boa melodia, bateria no contratempo e com o bom refrão: “pois ninguém não é bobo não, aprenda esta lição”.

“Lembrando uma Canção” tem solo com guitarra fuzz, e no refrão uma seqüencia bonita de acordes.

“Tarde Solitária” tem violão de doze cordas e solo com slide.

No refrão de “Sem a Presença dos Amigos”, o Amadão, muito esperto, diz: “vamos tornar este encontro, muito melhor que os antigos, vamos fazer nossa festa sem a presença de amigos, e amanhã começamos a pensar numa solução”.

Em “Forasteiro” ele diz que “não sou daqui, mas gostei daqui” e, poeticamente, diz  “quando estou só, dou um sol maior e espanto a solidão”.

“Cativo” tem um dos arranjos mais épicos do disco, bem legal.

“Desisto (Obrigado a Desistir)”, começa com um pianinho, depois entra bateria, baixo e moog (!!!), é uma das que mais fez sucesso, e também é a melhor do disco, baixo e bateria bem retos e solinho de guitarra meio ambient no fundo.

A mais triste do disco é “Meu Pressentimento”, composição de Hildebrando F. dos Santos, em que ele conta uma amargurada história, em que ele acordou triste, com um pressentimento, que iria receber uma carta de quem ele gostava, e logo depois que ele pensou, o carteiro apareceu e brincou dizendo “é uma carta de seu grande amor”, ficou tão feliz, mas ao abrir a carta veio a grande decepção: “bruscamente ela escreveu-me que de mim já havia esquecido, que eu pudesse também lhe esquecer, pois amava outro alguém escondido, eu fiquei tão triste no meio da frase, sem saber o motivo, ah meus olhos choraram de saudades de você”.

Amado Batista, “Cantar o Amor”, 

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Waldik Soriano, “Ele Também Precisa de Carinho” (1972)

 

Capa

Esse é o disco de Waldik Soriano que tem, não só sua música mais emblemática, como também uma das mais emblemáticas de todo o brega: “Eu Não Sou Cachorro Não”. Um grito de protesto de um homem enganado, desprezado e humilhado. Repare que ele usa as três palavras na mesma música:

“eu não sou cachorro não pra viver tão humilhado,

eu não sou cachorro não para ser tão desprezado, (…)

a pior coisa do mundo é amar sendo enganado”

Essa música é um supra-sumo do espírito da música brega, sofrida, lamentosa, praticamente um blues brasileiro. Ou um punk, pois toda a música é um protesto.

A letra também pode ser visto como um grito de protesto do povo brasileiro, geralmente visto como um vira-lata pelo resto do mundo.

Waldick Soriano disse que teve a idéia de fazer a música depois de se atrasar em um encontro com um amigo, e quando o Waldick chegou o amigo reclamou furioso: “Você me fez ficar esperando tanto tempo. Pô, Waldick, eu não sou cachorro não”.

O Falcão sabia da genialidade da música e já gravou-a logo em seu primeiro disco, independente, “Bonito, Lindo e Joiado”, mas cantada em inglês (“com ajuda do livro ‘Inglês Sem Mestre’ da Ediouro”).

A idéia tanto do nome do disco como da capa são fantásticos. Chamado de “Ele Também Precisa de Carinho” traz o Waldick Soriano segurando um cachorrinho com feição alegre em seu colo.

É muito provável que este seja seu melhor disco, ou um dos melhores.

Em “Sem Bolo e Sem Vela” ele relembra que hoje é o aniversário de sua amada e ele não pode estar presente em sua festa para lhe dar os parabéns. Tem um nome forte e ótimo, assim como a anterior: “Taça de Amargura”.

“O Lado Bom da Vida” é um country abolerado com ótimo clima western e backing vocal sensacional. “É melhor viver sozinho do que mal acompanhado, a pior coisa do mundo é amar sendo enganado”

Depois vem “Aquilo que Não Presta”, que concluindo diz “a gente joga fora” mostra seu jeito despachado e direto de falar sobre as desilusões amorosas.

“Goodbye My Love”, (depois ele canta “adeus, meu grande amor”), com uma frase em inglês, pode ter sido uma influência para as versões em inglês do Falcão.

“Ontem Eu Acordei Chorando” tem uma das mais bonitas melodias do disco, onde ele diz “sonhei que estava na igreja contigo casando”, e em alguns trechos ele canta quase sussurrando.

“Cabeça Oca” tem um dos melhores refrões do disco: “você é isso, cabeça oca, você é louca, mas eu não sou, agora é tarde, Inês é morta, mais uma porta você fechou”.

Depois vem “Se tem que ser adeus… adeus” ele diz para a mulher, que já se decidiu ir embora, que então ela vá logo para não prolongar o sofrimento dos dois, mas diz para ela não se arrepender depois . Clássica!!!

E o disco termina com a bucólica “Primavera Sem Fim”.

O disco todo é um convite para beber, se embriagar e chorar lembrando de algum amor mal sucedido, é um disco forte e intenso, carregado de emoção, mas que não deixa o humor de lado.

No Brasil existe um preconceito muito forte com o brega e com o bolero, essa barreira é difícil de transpor, mas suas letras podem ser encaradas um pouco como um blues punk, um lamento choroso e revoltado, e também às vezes debochado.

Pra quem não tem medo de chafurdar na lama do brega, e aceitar o convite feito em “Taça de Amargura”, com este disco irá beber, chorar e se divertir afogando suas mágoas de um dos melhores jeitos possíveis

Amigo
Ouça esta canção chorando
Porque quem esta cantando
Está
Chorando também

Eu sofro
O amargo desta dor
Eu tenho drama de amor
Que voce teve também

A minha historia
Talvez seja igual a sua
Porque quem ama se habitua
A sofrer desilusão

Sofra comigo esta noite
Chore comigo também,
Beba a taça da amargura
E esqueça aquele alguém

Link para download: http://www.bregablog.com/2011/06/waldick-soriano-ele-tambem-precisa-de.html

Waldik Soriano, “Ele Também Precisa de Carinho”,

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Coletânea “Nóis é Brega Mais É Jóia”

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Não se engane com essa capa tão tosca e pobre! Esta é uma das mais sensacionais coletâneas bregas!
(Pensando bem, no brega, quanto maior a tosquice e a fuleiragem, melhor!)

Tem de tudo um pouco:
O sax envenenado de “Não Toque Esta Música”, o clássico “Placa de Venda” de Maurício Reis que foi regravada pelo Falcão, o brega de teclado de qualidade de Zezinho Barros.
Porém, nada pode te preparar para o pior (!!!) (ou melhor?) tecladista de todos os tempos, nas faixas de Carlito Gomes, um teclado com um som horrível de trumpete, bem alto, bem na frente, com “Paraizo do Céu” (com z mesmo), em que apesar da música ser tão triste (conta o assassinato do pai dele, e o irmão dele quando viu o seu pai morto, foi logo fazer a “vingação”), a gravação é ao vivo e ele pede: “quero ver a galera comigo”.
Cristiano Neves, um dos melhores seguidores de Amado Batista com “Costureira”, “A Solidão e o Desejo” e “Tente Mais Uma Vez”, esta última uma mistura de Raul Seixas com a música da “Praça é Nossa”, só ouvindo pra conferir.
Juca e Jeca, num surreal e inacreditável tecno-caipira de raiz!

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Mestre Cupijó, “Sons da Amazônia”

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01 – Pout-Pourri
02 – Mambo do Martelo
03 – Marica
04 – Mambo do Macaco
05 – Pra dançar meu siriá
06 – Mingau de açaí
07 – Siriá Quente
08 – Caboclinha do Igapó
09 – Eu Quero Meu Anel
10 – Morena do Rio Mutuacá
11 – Farol do Marajó
12 – Samba do Matapi
13 – Sereia
14 – Ventinho do Norte
15 – Mambo do Peão
16 – Despedida
17 – Tubarão Branco
18 – Menina Chorona
19 – Lúcia

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Aparelhagem Superpop, “Superpop Março/2011”

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Este cd é daquela que é considerada a melhor aparelhagem de techno-brega de Belém do Pará.
Os DJs de tecno-brega são diferentes dos que estamos acostumados a ver aqui em São Paulo, porque lá eles falam no meio das músicas, e muito.

Este cd é de um show em que eu estive quando fui agora em março, nas minhas férias, pela segunda vez (a primeira vez foi a trabalho) para Belém do Pará. E eles tem um esquema muito legal: eles montam o cd no próprio show, prensam algumas cópias na hora, e próximo ao fim do show, ficam uns caras no meio da platéia vendendo os discos que acabaram de sair do forno.

Da primeira vez que eu havia ido para Belém, o amigo que conheci lá na empresa, o Shirlon, já havia me dado um cd de tecnobrega, também do Superpop. Eu já havia ouvido o cd praticamente até furar, pois era muito bom. Porém, o novo disco está muito melhor ainda.

Com absoluta certeza, o tecnobrega é disparado uma das coisas mais interessantes feitas na música popular do Brasil atualmente. Alguns outros estilos que têm forte apelo popular no Brasil são: sertanejo universitário, axé, pagode. Em nenhum desses estilos se vê a vitalidade e a independência que se vê no tecnobrega, exceto no funk carioca, inclusive este disco têm algumas faixas de funk carioca, tocadas pelos djs Elisson e Juninho.

O pessoal do tecnobrega entendeu bem, mesmo que inconscientemente, as lições do tropicalismo e da correspondente antropofagia, pois eles se apropriam, deglutem e transformam a influência estrangeira, misturam com algo tradicional, regional, como é o caso, pois o que eles fazem, a grosso modo, é misturar alguns dos ritmos tradicionais do Pará, como o calipso (o ritmo não a banda, mas pela banda dá pra perceber semelhanças entre o tecnobrega e a Banda Calypso: geralmente são mulheres que cantam, as batidas são parecidas e o que seria solado na guitarra e feito nos sintetizadores), guitarradas e carimbó, além de fazerem versões em português de músicas americanas de sucesso do momento.

Agora, o pessoal do rock brasileiro, em geral, não entendeu bem as lições do Tropicalismo: receberam a influência estrangeira, mas ao invés de fazerem como fizeram alguns índios quando os europeus chegaram (ou seja, o canibalismo), preferiram apenas aceitar a verdade vinda de fora como a verdade absoluta e passaram a idolatrar o rock vindo de fora, sendo assim, qualquer modificação ficava terminantemente proibida. No que o Wander Wildner ironiza, com razão, dizendo que os punk brasileiros querem imitar os punks ingleses se vestindo todos de preto, porém lá um dos principais motivos para eles se vestirem de preto porque lá é um frio
do caramba, e aqui no Brasil, com um calor tropical, o pessoal fica cozinhando em uma roupa preta. E para prezar a liberdade do punk, seria uma boa idéia ele se vestir colorido aqui no Brasil.

Bom, depois de tanto teorizar, vou falar um pouco sobre como é o show da aparelhagem Superpop: o lugar fica abarrotado de gente, os caras provavelmente são os maiores ídolos atuais de Belém do Pará, os DJs Elisson e Juninho. O show começa com outro DJ, menos conhecido, que serve para aquecer o público como se fosse uma banda de abertura. Lá pela meia noite, entra o DJ Elisson, no que o pessoal vibra muito, e o som fica bem mais alto.

O lugar onde os DJs ficam num lugar que parece uma nave espacial, inclusive até batizada de “Águia de Fogo”, cheia de luzes e telões. Mais ou menos uma hora depois do DJ Elisson entrar, entra também o DJ Juninho, que é mais um showman performático do que um DJ: vai pra frente, subindo na nave, com um daqueles teclados que parecem guitarra, e o teclado solta faíscas, combinadas com faíscas saem das laterais do palco; às vezes ele pega uma bazuca que solta confete e serpentina para o alto.

Complementando as teorias sobre as relações do Tropicalismo, complementar a este show, foi o show da Gaby Amarantos que vi em São Paulo na Virada Cultural, em que ela falou várias frases de orgulho e auto-afirmação, que concordo em número, gênero e grau: “a gente gosta sim, de ser chamado de índio”, “essa tribo tá chegando do estado do Pará”, “Beyonce é maravilhosa, mas eu amo ser a Gaby Amarantos”, essa última a respeito de sua alcunha, Beyoncé do Pará, por causa de sua versão “Hoje eu tô solteira” para “All Single Ladies” da Beyoncé.

Sobre o show da Gaby Amarantos, segue link para ótimo texto de Pedro Alexandre Sanches sobre o show:
http://ultimosegundo.ig.com.br/cultura/musica/musa+do+tecnobrega+gaby+amarantos+festeja+musica+do+norte/n1300080395820.html

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Banda Só Brega, “A vida é assim”

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Grande disco da banda Só Brega, que tem o ótimo hit “A Vida é Assim”.
O disco começa com três músicas com ritmos latinos cantadas em portunhol: “Aimará”, “Cubana” e “El Baderneiro”, não sei identificar o ritmo ao certo, mas parece ser cumbia.

A quarta música é a simplesmente genial “A Vida é Assim”, começa com um grande solo, à la Whitesnake. A letra da música, altamente filosófica começa assim:

Faço de mim o que quero
Faço o que quero em mim
Faço às vezes uma boa
Mas também faço algumas ruim

Aí vem o refrão, que é uma verdadeira máxima filosófica, e, por exemplo, é muito falado para consolar alguém que cometeu algum erro:

Porque meu bem,
Ninguém é perfeito
E a vida é assim

A letra continua:

Tudo demais tem limite,
Limita até o que vai pintar

E aí vem o verso, que segundo meu amigo Humberto, torna essa música o hino dos programadores que fazem um serviço porco, cheio de erros, e muitos outros que virão depois terão que consertar aquela tranqueira:

O que eu fiz errado está certo
E muitos vão querer consertar

No final da música ele repete alguns trechos da letra recitando-a, à moda do Zé Ramalho.

“Grande Amor” dá seqüência a seus estudos em portunhol.

Depois vem um pout-porri com clássicos do brega e jovem guarda: “Indecisão”, “Lilian” e “Não te Esquecerei”.

“Nosso Passado” mais uma balada, em que o vocalista Conde solta, como nas outras músicas, o seu bordão: “é banda Só Brega pra vocês, uuuôôôuuu”

O disco dá sequencia com “Não Quero Voltar Atrás”, “Cá Entre Nós” e “Só eu e você”.

Depois vem o versão da Banda Só Brega para “Saudades de Rosa” de Bartô Galeno, que ficou bem legal, e olha que a responsabilidade é grande fazer cover de Bartô Galeno.

E o disco termina com “Viver a vida”, “Vida minha” e “Maceteado”, outra em ritmo latino.

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Julio Iglesias, “Minhas Canções Preferidas”

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Quando eu era criança, ficava bravo quando minha mãe colocava esse LP para tocar. Porém, o tempo passou e hoje eu reconheço como esse disco é bom, uma das melhores coletâneas que eu já vi.

O disco tem apenas dez músicas, escolhidas a dedo. O lado A é irretocável.

Começa com o inegável clássico “Hey”, com sua abertura épica e um refrão fortíssimo: “eu sei, você nunca me quis agora eu sei, fingia que me amava e eu te amei, foi só por um orgulho este querer”.
Depois segue com “Pobre Diabo” que tem como ponto alto a ótima melodia em pizzicato.
“Me Esqueci de Viver” além de ter melodia e arranjo muito bonitos, é uma bonita reflexão sobre os erros cometidos, que por causa da vaidade esqueceu-se do mais importante: viver!
“Não Venho nem Vou” é toda melancolia agridoce de alguém que se sente perdido no meio do caminho: “ninguém me espera em nenhum lugar”, “não venho nem vou, me dá no mesmo ficar ou seguir”.
“Inesquecível Boemia” são agradáveis recordações das “noites de alegria e de poemas de amor”.

O lado B não é do mesmo nível do lado A, mas mesmo assim só tem música boa.
“A Menos Que” e “Camiñito” falam sobre desilusões amorosas.
“Velhas Tradições” fala sobre a obrigação de um casal precisar ficar junto mesmo quando não mais amor.
“Por Ela” tem uma das melhores melodias e arranjos do disco, com uma grande abertura. “Por ela, eu que só andava triste, mas percebi que o amor existe, foi por ela”.
“Por Você”, tem um violão e um arranjo muito legais.

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Cláudio Maksoud, “Até as Moscas Fazem Amor”, 1997

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Comprei este cd em uma baciada, 10 cds por R$1,50 cada, e ocasionalmente encontro alguns discos ótimos. É o caso deste “Até as Moscas Fazem Amor” do desconhecido Cláudio Maksoud, gravado em 1997.

O imperdível do cd são as faixas com letras humorísticas, com instrumental e melodia pop muito bons; a parte mais séria é mais fraca, um soul meio aguado.

A primeira faixa, que dá título ao disco, “Até as moscas fazem amor” é um xaveco torto dizendo que “só você não faz amor”, e aí faz uma lista doida de todos que fazem amor: moscas, pernilongos, dinossauros, petistas, capitalistas, suínos, rabinos, bichas, trichas, mato-grossenses, paranaenses, e por aí vai.

“Cheiro de Mar” é mais séria, e não tem nada de mais.

Em “Garota de Programa” ele homenageia as mulheres de vida fácil, citando até sexo com frutas (“eu nem posso ver melão que eu fico logo com tesão”), da dificuldade de apresentar a moça para a família em caso dele se apaixonar, e faz uma possível referência à música “Selim” dos Raimundos, só que indo além, ele diz “minha calça vai rasgar, o meu zíper arrebenta, meu mastro pula fora, a boate toda olha”; e ele ainda perde seu relógio ao entalar a mão naquela bolsa gigante; e a música termina com uma recitação, dizendo que adora estas mulheres porque elas já são abertas e fazem o Brasil um país mais ereto.

“Vamos a Lá Sauna” cita tanto aquela música dos anos 80, “Vamos a La Playa”, como também Blitz: “quer um chopinho? Não? Então, você quer uma batata frita? Não, você tá de dieta? Então vamos a la sauna”. O refrão é doido, porque ele cisma que sauna é praia de paulista… Mas é tão difícil alguém de São Paulo falar que vai na sauna. Seguindo a cartilha da Blitz, tem outras partes impagáveis, como “O meu nome, você quer saber? É Dong, Long Dong. Você me conhece? Você não me conhece não” (com uma risada e uma entonação bem picareta), e o cúmulo do xaveco furado: “Me fala o seguinte, você é daonde? De Ituverava… Eu sou de Ituverava também. Se eu sei como é lá? Tem uma praça e tal”, picareta pra caramba. O legal é que é uma música pop muito boa, muito bem feita, que poderia ser hit.

Depois vem a versão em português de “Venus” do Shocking Blue, que tem versos impagáveis como “Eu vi um disco voador / no meu liquidificador / rodava no meu suco de acerola / e apareceu um ser de camisola”, “queria usar a camisinha / de Vênus / ela era de Vênus”.

É interessante que as melhores músicas são as que o próprio Cláudio Maksoud compôs, as que ele não compôs, como “Cheiro de Mar”, de Valdir Carvalho, “Lua e Estrela”, de Vinícius Cantuária (com participação de Maurício Manieri (!!!) nos backing vocals e no piano), “Vontade de Voar”, também de Valdir Carvalho; são as mais fracas do disco, talvez uma tentativa de fazer um som mais comercial, voltado para tocar nas rádios, ganhar um dinheiro, mas a qualidade fica bem aquém das músicas com humor.

“Em nome do Senhor” é uma crítica às igrejas que só pensam em dinheiro, e surpreendentemente é uma das melhores músicas, com guitarras e violão muito bons, e ainda tem um coral gospel; mas a letra não vai muito além do lugar comum das músicas que criticam as igrejas.

“Meu Celular” tem um riff de guitarra que me lembrou um pouco Ultraje a Rigor, mas não é tão criativa, fala da namorada que não para de encher o saco ligando pro celular.

“Gostoso é Ir Pra Cama” é uma das melhores e mais surreais do disco, ele conta como é o seu domingo, lê a Veja e a Isto É, folheia os livros que comprou, estuda as tarefas da empresa, vai pra igreja, vai pra casa dos pais almoçar coca-cola com esfiha e kibe cru, ou macarrão com guaraná, e depois vai passear.

“Meu Amor” é outra música romântica sem nada demais, mas essa é composta pelo próprio Maksoud.

“Essa Vida é uma Piada”, apesar do nome, é a mais séria do disco, até meio depressiva, e mostra a atitude do Cláudio Maksoud com o absurdo da vida, que só dando risada mesmo; dizendo que enquanto o homem vai pra lua, o menino morrendo na rua, e também trechos pesados como “sua saúde é muito boa / ele está realizado / ele atravessa a rua / ele morre atropelado”. Procurando comunidades do Claudio Maksoud no orkut, em uma comunidade diz que ele também é escritor, tomando como base esta música parece que o livro pode ser interessante. (Sobre música que fala de desgraça aguarde em um próximo post, “Tango do Azarado” do Mister Sam. Não conhece? Foi ele que produziu a Gretchen… Aaaahhhh!!)

Até as Moscas Fazem Amor – ****
Cheiro de Mar – **
Garota de Programa – ****
Vamos a La Sauna – *****
Vênus – ****
Lua e Estrela – *
Vontade de Voar – *
Em Nome do Senhor – ***
Meu Celular – **
Gostoso é ir pra Cama – ****
Meu Amor – **
Essa vida é uma Piada – ***

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Babau do Pandeiro, “Meu Primeiro Compat”

Babau do Pandeiro é uma das coisas mais incríveis que eu já ouvi! Genial compositor de marchinhas de Carnaval e de festa de São João, sua forma de cantar é peculiaríssima, para vocês terem idéia, o Raimundo Soldado canta bem perto do Babau do Pandeiro. Utilizando praticamente sempre a mesma base, ele vai cantando pérola atrás de pérola. Seu nome real é Francisco Raimundo de Souza e atualmente mora em Fortaleza, Ceará.

Link para o download do disco “Meu Primeiro Compat”

Vejam essa impagável, sensacional e hilária entrevista. Uma das melhores que eu já li!!!

Link para um ótimo documentário sobre o Babau, inclusive com depoimentos do Falcão

Faixa a Faixa do “Primeiro Compat”, completo:
1 – Bebe Água Galinha – Ele logo avisa “atenção, muita atenção, esse é o meu primeiro COMPAT”. Nesta pitoresca marchinha de carnaval, ele fala tão abreviado que fica quase “bebe a galinha”, e também fala de suas galinhas que estão brincando o carnaval no puleiro. Surreal!
2 – Bota a Cabra – Esta é uma marchinha de São João, e também é relacionada com animais: bota a cabra pra berrar, bé, bé, bé, na fogueira de São João.
3 – Golada da Chopada do Magrão – sobre aqueles tiozinhos barrigudos que enche a barriga de chopp no churrasco
4 – Se eu fosse um baracho
5 – Somos Seis – uma divertida marchinha de carnaval sobre os Cavaleiros da Tábua Redonda, note a divisão de tempos no seu jeito de cantar.
6 – Coca-Cola no Municipal – muita gente já fez música homenageando as bebidas alcóolicas, mas homenageando a Coca-Cola não lembro de nenhuma, tem um verso ótimo: “quero tomar muita Coca-Cola nesse Carnaval e vou dançar dentro do Municipal”. Pra quem gosta de Coca-Cola como eu, está aí uma grande música.
7 – Cadê Didi! – uma ode sobre a comunicação
8 – Bêbado no Rio de Janeiro – “quem não tem dinheiro morre sapecado”
9 – Calango e o Bode – “vou me fazer de mole, aqui a gente não se bole”
10 – Cadê o Gari – “cadê o guari? ele tá na rua roubando toicinho”
11 – Já Não é Mais Aquela – uma de suas músicas mais melódicas, “você deixou seu amor de lado, que era dona do apartamento”, “mais uma vida barata em liquidação”
12 – Ronqueira – ótima marchinha de São João, atonal e muito divertida, em que ele conversa com ele mesmo
13 – Eu Vou Parar – música de conscientização anti-alcoolismo que não poderia ser mais direta: “eu vou parar, cachaça mata”

No bonus:
1 – “Cavalo Marinho” – outra em que ele conversa com ele mesmo e tem esse verso: “o cavalo marinho tem um rabo de cobra e é por isso que todo dia ele me cobra”
2 – “Cachaça Mata” – uma outra versão de “Eu Vou Parar”
3 – “Bebe Água Galinha (AO VIVO!!!)” – versão Live
4 – “Zé do Pijama”

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Azulão, “Azulão”

Link para o download do disco

Uma das melhores coisas do Ratinho ter alcançado o sucesso que alcançou foi que uma gravadora grande teve a coragem de lançar um disco inteirocom músicas cantadas por um artista como Azulão. Sorte nossa, que tivemos o privilégio de ter um disco com oito músicas do Azulão, uma melhor que a outra! O que é a letra da “Casa Redonda”? (veja mais abaixo). Mas que o disco encalhou feio, encalhou (o meu eu comprei por 2 reais). Eu imagino que as pessoas já não aguentavam ele repetir todo dia aquele refrão repetitivo “solta o azulão, solta o azulão, solta o azulão, PAIXÃO, solta o azulão”.

Quando o Azulão cantava essa música no Ratinho, dava pra ver, que apesar dele ter aquele vozeirão típico dos cantores negros, ele tinha um ritmo todo duro, pra cantar e pra dançar, ficando muito engraçado. Uma das coisas mais impagáveis foi um dia que passou o clipe que fizeram pra música, ele repetindo aquele refrão a música inteira, no estúdio, na banheira com uma gostosa, voando (com umas asas azuis, num efeito muito tosco). A letra tem uma variaçãozinha, que muita gente nem conhece, e tem um certo duplo sentido: “tanto tempo engaiolado, ele até perdeu o jeitão, quando avista sua amante, volta logo pra prisão” (volta o refrão)

Mas o seu disco veio pra provar que o Azulão não é só isso, não é um artista de uma música só, e nos brindou com uma música que tem uma letra psicodélica da melhor estirpe: “Casa Redonda”. A letra é de uma claustrofobia angustiante, além de também poder causar uma sensação de vertigem, por tanto rodar: “eu entrei numa casa redonda / e comecei a rodar / eu rodava, rodava, rodava / e não saía do mesmo lugar”. Dizem que o chá de santo daime às vezes causa a alucinação de imaginar que se está numa casa redonda; e no encarte diz que foi o próprio Azulão que compôs essa pérola… A dúvida que fica é: será que o Azulão já tomou Santo Daime? Mas a psicodelia não pára por aí, porque ele diz que quando estava perdido e desesperado ele começou a ouvir uma voz: “garoto, eu vim te salvar”. Pra não perder o costume, o refrão circular, literalmente, é repetido insistentemente: “eu entrei numa casa redonda, e comecei a roda, eu rodava, rodava, rodava, e não saía do mesmo lugar”. Pô, deve ser muito legal estar numa casa redonda. 🙂

“A Pulga (Pata Pata)”, é a versão brasileira infantil de uma música de uma cantora que eu acho que é africana, até que bem conhecida: “tá com pullllga na cueca (ele canta prolongando os éles), já vi vou catar”.

“A Dança do Azulão” é tão genial que estávamos com planos de colocar essa música de playback num show e ficarmos só dançando. Para as pessoas que não sabem dançar (como nós), e ficam frustradas, essa é a salvação, pois é uma das danças mais simples que podem existir (até mesmo porque o Azulão é todo duro ao dançar). Veja como é fácil: “vamos a dançar / a dança do azulão / um passo pra frente / um passo pra trás / levantar as mãos / vamos a dançar”. Essa é a letra inteira da música. Repare como ele castiga o português: “vamos a dançar”.

“Me Ajude Gente” dá uma idéia de como deve ter sido difícil para o produtor conseguir gravar este disco, tendo em vista as limitações do Azulão, tanto ritmicamente, quanto melodicamente e na pronúncia, mas que são compensadas por todo seu carisma. A música começa com ele tentando umas duas vezes, aí o Azulão fala: “Errei”. Aí o produtor fala: “Ê Azulão. Vamos lá, mais uma vez”, aí a música vai. A música é um pagodão.

A manjada “Macarena” também aparece aqui, mas numa versão que tem o que nenhuma outra tem: o carisma e o jeito de cantar de Azulão. Não sei se na original tem essa parte da letra, em que ele canta: “Macarena, é uma dança diferente, que remexe e alucina toda gente, tem um toque tropical, tem magia sensual”, com ele falando um éle sutil, que vai sumindo, impagável. Impagáveis também são as risadas indefectíveis dele, todas meio fora de tempo, e imprevisíveis em que momento vão aparecer.

“Clarinha” é uma bela homenagem à sua filha. “Ê Clarinha, ê Clarinha. Ê criança. Seu nome é Clara, mas nós tratamos de Clarinha, quando eu chego em casa, bem à tardezinha, ela vem correndo, vem da sala pra cozinha”.

“Parabéns do Azulão” fecha com chave de ouro essa obra-prima. “Parabéns pra você, por comprar meu cd”.

Depois ainda tem algumas versões pra playback, se você quiser treinar pra cantar igual ao Azulão.

Uma lenda, um mito, o Azulão desapareceu misteriosamente da televisão, sem dar mais notícias. O Ratinho nunca mais falou dele. Ouvi gente dizer que morreu, tomara que não. Talvez tenham confundido com um outro Azulão, nordestino, que toca forró. Pelo menos temos o privilégio de ouvir este cd. Porque é quase certeza que não vai ter um segundo.

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Bartô Galeno – Seleção de Ouro 20 Sucessos

Link para o download do disco 20 Sucessos

Esta coletânea do Bartô Galeno foi o primeiro disco brega que eu ouvi, e foi logo depois do término de um namoro de 3 anos e meio! Não poderia haver melhor (ou pior) situação! Uma das melhores coletâneas que eu já ouvi, pega as melhores músicas dos quatro melhores discos que o Bartô Galeno lançou (em 1976, 1977, 1978, 1979).

Segue abaixo a capa do disco “No Toca-Fitas do Meu Carro”, um clássico!

Na minha opinião, o melhor cantor do brega! Existem vários outros bons cantores de brega, mas poucos são tão passionais quanto Bartô Galeno. Conheci a música de Bartô Galeno em um dos momentos mais difíceis da minha vida: o término de um namoro de três anos e meio. Foi uma combinação perigosa, pois a música de Bartô Galeno é uma das mais passionais de todo o brega; e a noite foi longa, não conseguia dormir lembrando trechos das músicas: “o que foi que fizeram com ela, que ela chorou?” (Sorriso de Moça), “e eu sei que não vou ser feliz nunca mais” (Só Lembranças), “quando agora for passado, vou lembrar que fui coitado” (Sorriso Forçado).
Porém, hoje em dia, ouço-as sem o sofrimento de outrora, mas claro que quase sempre com uma vontade de beber. São músicas lindíssimas, apesar de algumas serem bastante tristes. Bartô Galeno é uma epítome do brega, o meu cantor preferido de brega, com ótimas músicas e arranjos somadas a uma excelente voz e uma interpretação passional.
A sua temática é quase sempre a dor de corno, e musicalmente está na vertente das baladas românticas.
Por causa de seu acentuadíssimo tom passional, não é de fácil assimilação por todos que gostem de músicas românticas, como é o caso do Amado Batista, mais pop, e por isso mais aceito.
Interessante que a sua música, além de toda a deprê associada, também causa uma espécie de torpor.
Em um boteco aqui perto de casa, o Boteco do Toninho, foi onde aprendi muito sobre o brega, e o dono além de ter muitos vinis do Bartô, também teve a oportunidade e a honra de abrir um show do mestre.

O clássico: No toca-fitas do meu carro

Antes de eu comprar, fazia um tempo que eu havia ouvido uma frase do refrão de sua música mais famosa numa propaganda daquelas coletâneas de músicas dos anos 70, e ficava repetindo e irritando as pessoas mais próximas, por só saber aquela frase, mas que eu sabia, era um dos maiores clássicos do brega: “No toca-fitas do meu carro”. Eu fiquei impressionado: que nome de música genial!
Na primeira estrofe já aparecem algumas imagens que nos levam direto aos anos 70: um carro, que provavelmente deve ser algo como um corcel, um toca-fitas, o cigarro:

No toca-fitas do meu carro,
Uma canção me faz lembrar você,
Acendo mais um cigarro,
E procuro lhe esquecer

A dor aumenta quando ele constata que o banco do passageiro está vazio, e essa ausência só faz seu amor aumentar:

Do meu lado está vazio
Você tanta falta me faz
E cada dia que passa
Eu te amo muito mais

Até aqui, é uma música romântica tradicional, somente com algumas imagens peculiares a distinguindo. Porém, é a próxima estrofe que caracteriza um brega autêntico, onde o cantor não se contenta em lembrar da pessoa amada, ele quer saber é de sofrer pra valer, colocar o dedo bem fundo na ferida:

Encontrei no porta-luvas,
Um lencinho que você esqueceu
E num cantinho bem bordado
O seu nome, junto ao meu

A manguaça

Em um boteco aqui perto de casa, o Boteco do Toninho, foi onde aprendi muito sobre o brega, e o dono além de ter muitos vinis do Bartô, também teve a oportunidade e a honra de abrir um show do mestre. Segundo o Toninho, antes do show, o Bartô Galeno já tinha tomado várias, e queria mais. Pediu mais um whisky para o dono do bar, que disse: “Primeiro você faz o show e depois você bebe. Olha o estado em que você está”. Bartô Galeno não pensou duas vezes, pegou o tinha na mão e tacou no dono do bar. Ao subir no palco, onde cantaria umas três músicas, caiu de bêbado. Hoje em dia, percebe-se em seus discos, uma voz curtida anos e anos na cachaça.

Show em Serra Pelada

Outra história engraçada que eu li numa entrevista sua foi uma que, quando ele foi fazer show no garimpo de Serra Pelada, numa altura do show, o pessoal começou a atirar para o alto, Bartô que ficou com medo e perguntou para o organizador do show o que era aquilo, que respondeu: “fica tranqüilo, Bartô, se eles estão atirando é porque estão gostando”.

Tristeza, sofrimento e tragédia

Bartô Galeno tem músicas que parecem Joy Division parecer brincadeira de criança. “Sorriso de Moça” é um dos melhores exemplos. Num arranjo todo em acordes menores, a música fala do sofrimento de uma menina inocente que entregou todo o seu amor, e hoje é uma mulher desiludida e vítima de uma maldade: “O que foi que fizeram com ela que ela chorou / ela era feliz e cantava cantigas de amor / hoje vive calada e tão triste num canto sozinha / nem parece a moça bonita que ontem sorria / Seu sorriso de moça bonita / alguém carregou / ela hoje é mulher / e a vida já não tem valor”.

Outra música, que apesar de também trazer sorriso no nome, é uma das suas mais tristes e belas canções, é “Sorriso Forçado”. A música começa com ele dizendo que “quando agora for passado, vou lembrar que fui coitado”; porém, traz uma esperança típica dos românticos, “meu sorriso que é forçado, vai ser livre e demorado, pois a vida que eu sonhei, eu sei que vai chegar”. Fala da mulher que sorri agora, enquanto ele chora, mas um dia chegará sua vez de também sorrir, isso com um lindo solo de cordas e oboé ao fundo: “Você sorri de mim agora, se esquecendo que no amanhã, quem hoje vai chorando embora, também terá motivos pra sorrir”.

Uma espécie de resposta à música da Pitty que diz que “memórias, não são só memórias”, “Só Lembranças” diz: “só lembranças, só lembranças, só lembranças, e nada mais”. É um ótimo exemplo de ultra-romantismo, trágico e irreversível: “Nos braços de outra qualquer, eu procuro me esquecer de quem me fez infeliz, mas eu sei que não vou ser feliz nunca mais, vai lembrança pra longe pra ver se eu consigo outra vez minha paz”.

Mas, talvez sua música genialmente mais trágica e concisa seja Você Vai Partir: “Você vai partir, e eu vou ficar aqui, e aqui vou me acabar”.

Uma música que tem uma letra das mais bonitas é uma que chama “Palavras Perdidas”, em que ele além dele cantar a genial frase “eu tenho medo, mais do amor do que da morte”, ele também critica as pessoas que apenas falam de amor, pois isso é fácil, o difícil é que as palavras sejam sinceras: “tenho medo que sejam mentiras estas suas palavras”, “falar de amor é muito fácil, pois todos falam, são palavras perdidas que você fala e logo se esquece”.

Romantismo

Nem só de tristeza são feitas as músicas de Bartô Galeno. Elas também retratam o quanto é doce e gostoso estar apaixonado, onde ele chega ao ponto de dizer que quer ver a mulher acordando despenteada; pense o quanto precisa estar apaixonado para querer algo assim? É paixão pura.

“Momentos coloridos”: “Quero, quando chegar o amanhã, ver em meus braços, você despenteada, sorrindo feliz”.

“Você”: “Você que é pura de carinho, que está no meu caminho, no meu jardim você entrou, “, e no refrão: “Você, minha querida, minha amiga, minha vida, você, que em sua boca me mostrou o céu, você que tanto envolve a natureza do meu ego, você que é minha musa, que é meu se e é meu por que”.

“Eu quero”: “Eu quero, ver o seu corpo rolando na cama / eu quero ouvir você dizendo que me ama / eu quero em seus braços me perder / eu quero, ver amanhã na minha despedida / olhar você despenteada e ainda mal vestida / me abraçando e me pedindo pra ficar”.

A letra de “Imensa Euforia” mostra o que é de verdade um amor: “quero te dar o mundo em forma de amor, tudo farei para que não sintas uma dor”.

Desespero

“Esta Noite eu Preciso Te Amar” mostra um Bartô Galeno mais desesperado que noivo em festa de casamento, esperando a noite de núpcias: “deixa eu tocar o seu corpo na cama / pra ver você dizer que me ama / deixa, deixa eu sonhar / deixa eu fazer dos seus braços meu ninho / e esquecer que vivo sozinho / esta noite eu preciso te amar / quero, esta noite ter você ao meu lado / e viver os momentos sonhados / esta noite eu preciso te amar”.

A melhor música: “O Grande Amor da Minha Vida”

Tem todos os elementos de um bom brega: é cantada a plenos pulmões, fala da desgraça de não ter a mulher amada, como seria bom estar com ela, e culpa o destino por essa desventura: “se eu pudesse neste momento estar contigo meu amor / nesta hora eu não seria um sofredor / eu seria o homem mais feliz do mundo / mas o destino a cada instante me separa de você / deste jeito eu sei que vou enlouquecer / na sua ausência, vou morrer na solidão”. E pra fechar, ainda tem uma recitação: “Amor, não consegui gostar de mais ninguém. E sabe por que amor? Porque você é o grande amor da minha vida”. Simples e perfeito.

“Não Vou te Perdoar”: a questão do perdão na música brega

No brega, na maioria das vezes a traição não é suportada e nem perdoada, pois isso demonstraria fraqueza e até diminuição da masculinidade e virilidade do traído. Porém, pouquíssimas músicas falam com tanta precisão da questão do perdão na traição quanto em “Não vou te perdoar” de Bartô Galeno. A música também fala da vergonha que a traição causa, que seria pior que o ciúme. Mas no último verso, ele acaba cedendo, e a perdoa.
Preste atenção no ótimo arranjo, uma balada muito melancólica, com um phaser ou chorus muito legal na guitarra, que cai como uma luva para a letra extremamente angustiada:

Não Vou te Perdoar (Bartô Galeno)

Quando eu soube que você
Se envolvia com outro alguém
Eu senti uma coisa estranha
Não foi ciúme, foi vergonha

Pois eu nunca imaginei
Que você agisse assim
Quase não acreditei
Que bobo eu fui, pobre de mim

Nossas brigas passageiras
Me levaram a acreditar
Que durante a vida inteira
A gente fosse se amar

Não consigo entender
É difícil de aceitar
Atitude como essa
Chega mesmo a revoltar

Não sei se vou te perdoar
Eu não vou te perdoar
Não sei se vou te perdoar
Eu não vou te perdoar

…Mas eu vou te perdoar

Desgraça

Em “Nesta Casa Onde Morou Felicidade”, além de um casamento desfeito, a desgraça é maior porque seus filhos não querem ouvi-lo nem como amigo.

Letras curiosas

Uma das suas letras mais criativas e curiosas é “Lembranças do Rei”, que é feita inteira somente com nomes de músicas do Roberto Carlos, uma das suas maiores influências:

Malena, esqueça dele meu bem,
Quero ter você perto de mim,
Os velhinhos querem acabar comigo
Ninguém vai tirar você de mim

É papo firme, eu te amo, te amo, te amo
Eu estou apaixonado por você
O diamante cor-de-rosa, minha senhora
É meu, é meu, é meu

Tudo que sonhei, nada vai me convencer
Amigos, amigos, ciúme de você
Não quero ver você tão triste
Você é linda, não adianta nada

Não há dinheiro que pague
Ternura antiga

Em “Ela Não Vem”, diz “Que bom seria, se meu bem chegasse agora, bem suadinha e se jogasse nos meus braços”

Carro Hotel

Bartô Galeno tinha uma fixação com carros em suas músicas. Além do clássico “No Toca-Fitas do Meu Carro”, há também “Carro Hotel”, uma engraçada descrição de um carro muito brega.
O começo da letra parece ter sido inspirada em “Calhambeque” do Roberto Carlos:

Pra vocês que não conhecem o meu carro
Vou decifrar mais ou menos como ele é

Depois ele faz uma descrição detalhada de todos os apetrechos do carro:

Tem toca-fitas, ar refrigerado e televisão
O meu carro é uma tremenda mansão

E no refrão, simplesmente genial, ele diz que o carro serve perfeitamente como motel:

Carro-Hotel, banco e cama
A gente ama, Olhando o céu

Depois vêm mais acessórios, e com aquela falta de modéstia que também aparece em “Calhambeque”:

Rodas cromadas, pneus tala-larga,
Faróis alto e baixo, teto solar
E é por isso que as gatinhas se amarram
E todas querem no meu carro passear

Outra música versando sobre o assunto carros e velocidade, só que aqui juntamente com os temas amor e morte, quase onipresentes em sua obra, é “Saudades de Rosa”, em que ele diz, com barulhos de carros acelerando ao fundo: “eu ontem tive tanta sorte, a malvada da morte andou perto de mim, eu no meu carro dei bobeira, numa brincadeira quase levo o fim, andava a toda velocidade, pra superar a saudade que andava junto a mim, esta saudade era de Rosa, (…) compreendi que estava errado, que não se deve morrer por amor”.

Timbres e Arranjos

Praticamente todas as suas músicas tem ótimos timbres, tanto de baixo, bateria, quanto de guitarras, cordas e sopros. Porém, algumas das músicas se destacam, com relação aos melhores arranjos:

“Quem ama tem ciúme” tem um solo espacial de sintetizador, bem típico de rock progressivo dos anos 70; impressionante, e impagável. A música é uma balada como a maioria das outras, mas na hora do solo, o som fica de uma loucura só.

Em “Você Vai se Arrepender” vemos Bartô Galeno botando pra quebrar em um funk-soul que não fica devendo em nada aos mestres do estilo. Mostrei para um amigo que é grande conhecedor e admirador de música black, que gostou tanto da música que pediu pra repeti-la umas três vezes.

“Vou Tirar Você Daqui” é um soul à la Roberto Carlos dos anos 70, mas tem um solo estrambólico de sintetizador que não fica nada a dever a Rick Wakeman.

A seqüência de “quase-rocks”: “Esta Noite Eu Preciso Te Amar”, “Coisas da Vida” e “Nosso Amor Já Morreu”.

A linha de baixo de “Você me Pertence”.

Atualmente

Bartô Galeno continua lançando discos, e embora não tenha mais a mesma voz, hoje já curtida por anos de cachaça, e os arranjos das músicas não serem tão bons quanto antigamente, as músicas continuam emocionadas e apaixonadas, muitas sendo dramaticamente exageradas, como um bom brega deve ser.

Os discos “Bartô, Simplesmente Bartô” e “Acorrentado a seus pés” são também recomendados aos fãs do brega. Em “Amor Caliente”, ele diz: “vou colocar o seu nome na chave do carro, vou me tornar refém da suíte de luxo do vigésimo andar do seu coração”, e em outra ele diz “é muito bom, é muito bom, beijo na boca com sabor de hortelã”. O seu filho que também está seguindo a carreira de cantor, com o nome de Bartozinho Galeno, tem uma voz boa, e compôs uma música muito boa para o disco.

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